Parte 2
Será Que o Skate Alguma Vez
Vai Ser 100% Aceite?
Entre a Rebeldia e a Aceitação
Este texto é a parte dois do artigo “Será Que o Skate Alguma Vez Vai Ser 100% Aceite?”, escrito por Luís Guedes. Depois de mergulhar na história, nas raízes contraculturais e nos conflitos diários entre o skate e o espaço público, percebemos que o tema não podia ficar por aqui. Há mais camadas por explorar, mais exemplos por expor e mais provocações a fazer. A luta por aceitação, se é que essa luta faz sentido, continua a desenrolar-se todos os dias nas ruas, nas câmaras municipais, nas conversas entre skaters e até dentro da própria cultura. Esta segunda parte segue nessa linha: com os olhos bem abertos e sem pedir licença.

O skate nasce do surf na década de 60, nos Estados Unidos, e é contemporâneo do movimento “Contracultura”, que se caracterizou pelo seu estilo de mobilização e contestação social. Liderado por jovens, inovando os estilos e voltando-se mais para o antissocial aos olhos das famílias mais conservadoras, com um espírito socialmente mais liberal.
Apesar de não estarem diretamente relacionados, o movimento contracultura e o skate partilham características como ser uma cultura underground e alternativa e/ou marginal, de onde resultaram transformações da consciência, dos valores e do comportamento, na busca de outros espaços e novos canais de expressão para o indivíduo e pequenas realidades do cotidiano.
Importante esclarecer que, no caso do skate, estas características são inerentes à sua cultura e não são aplicadas de forma consciente ao contexto social. Os skaters fazem porque acham que devem fazer e não porque querem ir necessariamente contra, e aceitam isso como uma característica. Como descrito pelo Valter: “(…) Fazer algo que é visto de forma diferente (…) até é fixe. Mostra que tu não és assim. (…)”.
Também mencionado sobre o quanto o skate deve ser respeitado, talvez estejamos à procura de respeito, das e para as pessoas erradas. A primeira vez que uma foto de skate foi publicada numa revista não dedicada à nossa cultura foi da Patti McGee, em 1965, na Life Magazine, e um dos primeiros pro-model de skate também foi uma mulher, Linda Benson, para uma marca chamada Hansen Surfboards, em 1964. Mas pensemos que, após 60 anos, em 2025, as mulheres ainda têm de reclamar e lutar pelo seu lugar.

Se pensarmos no tipo de pessoas que nos gritam “skate é mau”, tudo para alguém assim será mau se envolver a liberdade e direito de acesso generalizado entre todos. Como mencionado pelo Ruben Carlos “(…) o skate de rua é uma forma de lazer espontânea, criativa e sem custos”, o que pode incomodar quem acha que tudo deve estar regulamentado e monetizado. (…) Com o crescimento da falta de investimento público, nunca foi tão importante a nossa prática como “arma” contra estas ideias, pois nós somos os maiores críticos não verbais dos espaços públicos. Nós usamos e expomos a falta de cuidado do espaço urbano, pois materiais mais baratos e de fraca qualidade deterioram-se com mais facilidade, e nada leva mais esses materiais ao limite que práticas urbanas não convencionais.
Como mencionado pelo Emanuel Silva “O skate desgasta os spots, faz barulho, e há sempre pessoas que não gostam disso.” Talvez precisemos de mostrar, como mencionado pelo João Gomes, que a raiva está na direção errada. Os skaters são actores do espaço como qualquer outro pedestre, e não são os skaters que tomam decisões sobre o espaço público. Na maioria das vezes, nem são os skaters que tomam decisões sobre o espaço ao qual o cidadão comum nos quer confinar, vulgo skatepark.
Se quisermos ter essa batalha, mesmo exemplos como a câmara de Bordeaux e de Malmo, que têm em conta o skate como utilizadores do espaço público, mostram que essa iniciativa não partiu da câmara, mas sim dum esforço numa luta que pode demorar anos pelos skaters locais. O mesmo aconteceu com o reconhecimento e preservação de espaços em particular, como é o caso do Southbank, em Londres, e do skatepark das Gerações, em São João do Estoril.
Acabando como comecei, o Valter Sousa refere que vê o skate como arte. O Google diz-nos que a definição de arte é “produção consciente de obras, formas ou objetos voltada para a concretização de um ideal de beleza e harmonia ou para a expressão da subjetividade humana.”
Apesar de, pessoalmente, ter dificuldade em concordar que skate é arte, consigo perceber que há muitas características comuns. É uma expressão de criatividade subjectiva e, como contracultura, é também subversiva, o que significa que perturba a ordem estabelecida. E isso só acontece se houver algo para derrubar.
Queremos ser aceites… 100% aceites?

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