“BARBEZIEUX SKATE VIDEO”
Uma entrevista com Bruno Aleixo
Mais do que truques, Bruno Aleixo se meteu em uma missão rara nos dias de hoje: pegar uma handycam, chamar os amigos e registrar o que ainda faz o skate ser skate, sem filtros, sem marketing, sem truques para o algoritmo. O resultado foi o “Barbezieux“.
Nesta conversa, falamos sobre o processo cru de fazer um vídeo praticamente sozinho, as cenas que falharam, as que surpreenderam, o impacto do parque de São João da Madeira e o que se aprende quando se troca o scroll infinito por um projeto real com pessoas reais. Uma entrevista sobre paciência, falhanços e o poder de juntar o pessoal para fazer algo com significado.

Para quem ainda não te conhece, quem é o Bruno Aleixo dentro e fora do skate?
Eu considero-me uma pessoa paciente e isso nota-se tanto dentro como fora do skate, não me enervo com toques que falho vezes e vezes sem conta e relaciono-me bem com as pessoas mesmo com aquelas que não mereciam que fosse tão paciente às vezes. Sou uma pessoa que dá bastante importância ao tempo e à liberdade e que adora estar com o pessoal, fazer churrascadas com um guacamole e uma música mexicana atrás de minha casa ou ir para um jardim só chillar ou a ler.

O que te deu na cabeça para começares a filmar esta cena?
Decidi simplesmente marcar de alguma forma aquilo que me marcou na vida no melhor sentido em termos de relações interpessoais e crescimento. Foi o sitio onde conheci o pessoal que hoje faz muita diferença em estar na minha vida pela positiva e onde mais falhei usando isso a meu favor para ser mais paciente e consciente. Decidi então comprar uma handycam e começar a chamar esse pessoal para gravarmos e foi se desenvolvendo.
Ficaste mesmo satisfeito com o resultado ou havia merdas que preferias ter feito diferente?
Fiquei mesmo satisfeito embora sinta que não tenha dado o maior ênfase à parte da edição e afins. Editei tudo no telemóvel no imovie um bocado ás “três pancadas” quando poderia ter investido um pouco em aprender melhor outras formas de edição mas o resultado final transmitiu o que eu queria que fosse transmitido, como alguém me disse por feedback, o Barbezieux é um “hino à vida”.

Disseste que o projeto não saiu como tinhas pensado — o que falhou?
Foi a parte das músicas, tinha planeado fazer toda a parte auditiva com um amigo meu na altura que é um compositor que admiro e estávamos a fazê-lo de modo a que ficasse mesmo de mãos dadas com a edição mas devido a umas questões pessoais que nos afastaram um pouco decidimos não fazer isso juntos e acabei por meter umas músicas que a meu ver fazia sentido estarem ali.
Foi difícil manter a malta motivada para filmar ou era tudo no impulso?
Foi difícil arrancar confesso, no entanto quando as coisas começaram a aparecer o pessoal ficou mais motivado e começaram a pensar em cenas para dar em diferentes spots. Falávamos bastante disso no grupo e eu partilhava ideias do que queria fazer e onde e o pessoal acabava sempre por alinhar cada vez mais.

Alguma vez pensaste: “Esquece, isto nunca vai sair”?
Por acaso nunca foi algo que me passasse pela cabeça, o que por vezes pensava era que ia demorar mais do que aquilo que tinha em mente mas mesmo assim nunca houve pressa de nada. Existiram momentos em que pensei que estava bom e que podia lançar como estava mas ao mesmo tempo o pessoal estava com pica e eu também por isso simplesmente deixamos andar e fomos filmando. Demorou mais ou menos 2 anos e meio desde que decidi começar com isto.
Que papel teve o skatepark de São João da Madeira no teu crescimento, não só como skater, mas como pessoa?
É uma questão interessante, quando eu comecei a ir para lá o ambiente era tenso e havia pessoal mais velho que na altura não era muito fixe com os putos e era um clima um bocado anárquico, a polícia parava lá muitas vezes por causa disso e nós (pessoal mais novo) acabávamos por ter de experienciar essas questões de uma forma que nos fez crescer mais rápido a meu ver mesmo que não estivéssemos envolvidos em muitas das cenas. Fez-me ver um lado mau que usei como exemplo para ser melhor, neste momento é super seguro ir para o skatepark e todos são bem-vindos.

Achas que o parque ainda representa o que representava para ti quando eras puto?
Quando comecei a ir para lá já não era propriamente “puto”, só comecei a skatar com 18 anos mesmo que a minha vida social tenha começado tarde perto dessa altura só mas embora o parque não seja o melhor em termos de rampas e etc, é um sítio que para mim é acolhedor e gosto de ir para lá mesmo sem skatar às vezes.
Depois que o vídeo saiu, alguma coisa mudou? Houve obras ou melhorias no parque?
Não houve, infelizmente a câmara de são joão não tem grande consideração pelo skatepark, este atual tem madeiras do antigo de modo a que a construção fosse mais barata e o chão é um cimento muito antigo que está bastante áspero o que torna as skatadas mais difíceis e não muito apelativo.

Como achas que os vídeos como o “Barbezieux” podem influenciar a cena local?
A meu ver é sempre bom que este tipo de vídeos existam para mostrar aos outsiders como somos e o que temos de modo a que entendam como crescemos e qual é o nosso estilo. São joão tem bons spots que o pessoal não conhece e acho que o Barbezieux ajuda a que vejam isso e que motive o pessoal a curtir nesses spots.

Quanto tempo é que andaste com a câmara às costas até isto sair?
Eu andava sempre com ela no carro dois anos e meio antes do barbezieux sair, às vezes encontrávamo-nos no parque e surgia terem uma ideia para gravar algo em algum lado e íamos só.

Houve alguém que te surpreendeu bué nas filmagens?
Houve, o Daniel Esteves, ele tem mesmo bue pica e um estilo mesmo fixe, era sempre fácil quando ia filmar-lhe algo porque acertava as cenas rápido e surpreendia-me porque não tinha o hábito de skatar muitas vezes street e parecia algo natural, no entanto tenho tive todo o prazer em gravar todos, o Sérgio Fernandes também tem manobras mesmo interessantes e únicas e embora tenha poucos toques foram mesmo prazerosos de gravar.

Quem levou a queda mais estúpida do vídeo?
Está na parte dos créditos, foi uma do Gonçalo Almeida, infelizmente não chegou a ter toques na parte mas houve um dia mesmo fixe que estávamos a skatar num spot em são joão e as pernas dele deixaram de funcionar quando se mandou para um 50-50 e foi tão bom de se ver ahahah.
Tens algum clip que te arrepia sempre que revês?
O 50-50 do Tiago Correia num curb agressivo que temos cá em são joão que aparece no início da parte. O vídeo não faz jus ao spot e lembro-me do quão contente fiquei no momento em que ele deu isso, sempre que passo no spot com pessoal (mesmo quem não skata nem quer saber) digo sempre que tenho um amigo que deu aquilo de skate.

O que foi mais difícil: filmar ou aguentar a edição?
Não consigo dizer com certeza o que foi mais difícil porque adorei fazer ambos e como mencionei antes, não dei de mim o que o vídeo merecia em termos de edição por isso posso dizer que o mais desafiante foi filmarmos.
Já agora, editaste com quê? E porquê nesse programa?
No Imovie no telemóvel pura e simplesmente pela razão de que é um programa com o qual estou familiarizado e aceitei só que seria tudo lá, foi uma decisão de preguiçoso.
O vídeo tem uma vibe bué real — foste atrás disso ou saiu assim sem querer?
Foi algo natural, desde o início que sabia que o vídeo não ia ser um showcase de manobras então já tinha em mente que o que queria fazer era mostrar o que somos e como fazemos o que fazemos e a meu ver isso ficou bem claro.
Porque é que incluíste cenas com polícias e pessoal mal disposto? É para mostrar que o skate ainda incomoda?
Isso faz parte do que foi para mim o natural, quer queiramos quer não, esse tipo de questões ainda acontece e vai sempre acontecer. Não foi para provar nenhum ponto no entanto é perfeitamente normal sermos expulsos de certos spots que podem ser mais incomodativos para o pessoal e acho um bocado absurdo ir contra isso, sabemos perfeitamente que é mais complicado gravarmos em certos spots e vamos na mesma no entanto quando formos expulsos temos simplesmente de aceitar e não contestar ou ficarmos fudidos. Perdemos a razão se o fizermos, basta tentarmos noutro dia e já está.

A malta percebeu logo o que estavas a fazer ou tiveste que explicar 100 vezes?
O pessoal já sabia, mesmo antes de o fazer já estava com ideias disso e fui falando com a malta (se calhar às vezes até era chato com isso ahahah) e durante o processo fui comentando e trocando ideias com algum pessoal.
Tens algum toque que ficou por dar?
Tenho uns meus que tinha em mente que não acabaram por acontecer mas não é tarde e os spots são perto por isso não fiquei frustrado com isso.
Andas a cozinhar mais vídeos ou foi só um desabafo criativo?
Já falei com o pessoal e estamos com planos de lançar o Barbezieux 2. Já temos alguns toques em mente e vamos começar a gravar muito em breve!
Se fosses agora filmar o “Barbezieux” outra vez, o que farias diferente?
Em termos de filmar não mudava nada, teria e terei mais em atenção a parte da edição claro, isso é uma mudança que farei neste próximo Barbezieux

Qual foi a maior verdade que aprendeste a fazer este vídeo?
Que quando temos uma ideia devemos de tentar agir para a tornar real mesmo que isso implique falhar redondamente. O resultado final e o processo do Barbezieux gritaram o quão importante isso é e desde então que tento fazer as cenas que me passam pela cabeça e tenho sentido que isso me ajudou em diferentes coisas da vida.
Bruno, obrigado por teres essa iniciativa de pegar na câmara e juntar a malta para fazer projeto como este! e vamos esperar para ver o Barbezieux 2!
Amanhã já vou começar a gravar umas cenas para o barbezieux 2! Honestamente esta questão da entrevista deu me ainda mais pica e lembrou me do que é importante e do porquê de fazer o que fiz como fiz e que parar não faz sentido